Peppino di Capri brinda 60 anos de carreira






Ele faz um balanço de sua trajetória, explica como nasceu um de seus maiores sucessos, a música Champagne, e revela encontros inusitados com políticos famosos do Brasil e da Itália

Texto: Roberta Gonçalves
Fotos: Gillo Brunisso / Gianni Riccio




NÁPOLES, 06/06/2018

Se você perguntar, é provável que pelo menos uma pessoa de sua família já tenha vivido um momento (ou até uma história) embalado pelas músicas dele. Peppino di Capri, o cantor italiano que conquistou gerações ao longo das últimas décadas, celebra 60 anos de carreira em 2018. Em Nápoles, ele conversou com o Jardim Italiano, enquanto aguarda ansioso por suas próximas apresentações no Brasil, que devem acontecer em setembro ou outubro deste ano, ainda sem data e local definidos.

Mas, por lá, as comemorações já começaram. No dia 21 de maio, apresentou-se para uma plateia lotada com mais de 1300 pessoas no histórico Teatro di San Carlo, que vibrou com sucessos como Roberta e Champagne.












Plateia aguarda apresentação


E, para quem estiver por aquelas bandas, ainda dá tempo de pegar a segunda fase da festa, que acontece neste sábado, 9 de junho, com mais um show, no mesmo local. Nesse bate-papo exclusivo com o Jardim Italiano, Di Capri fala da emoção de ser dirigido pelo filho Edoardo Faiella, faz um balanço de seus 60 anos de carreira, explica como nasceu a música Champagne e revela encontros inusitados com políticos famosos, como o ex-presidente brasileiro Lula e o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi.






Concerto no Teatro di San Carlo









Concerto dirigido pelo filho Edoardo Faiella





Edoardo Faiella, filho de Peppino di Capri, e o pai


As apresentações no Teatro di San Carlo têm um sabor especial para o artista caprese: a orquestra é dirigida por um de seus filhos, Edoardo Faiella, que herdou a vocação artística do pai: “Ele é um músico nato. Aos 9 meses de idade, em vez de falar, cantou a música Jingle Bell. Recentemente, estudou música em Boston, nos Estados Unidos, e foi o primeiro colocado entre 3 mil finalistas” – orgulha-se o pai coruja.








A música acompanha o cantor desde os 5 anos de idade


Na verdade, os dois tiveram um início musical precoce. Aos 5 anos de idade, Di Capri se lembra (sem muita saudade) que já estudava música clássica: “É sempre um aprendizado, claro, mas não creio que tenha sido fundamental. Acho que, quando a pessoa já nasce com a música dentro de si, muitos ensinamentos externos são desnecessários” – reflete.









De fato, o menino cresceu e, mais tarde, o jovem Giuseppe Faiella (seu registro de batismo) substituiu a música clássica pelo rock, gravando seu primeiro álbum, em 1958, já com o nome pelo qual seria conhecido no mundo todo, Peppino di Capri e os seus rockers, com canções como Malatia e Nun è peccato. Ao longo dos anos, o romantismo foi ganhando cada vez mais espaço no repertório e, hoje, depois de 15 edições do Festival de San Remo e 60 anos de trajetória artística, ele faz um balanço do que poderia ter sido diferente:
– Acho que faltou um grande empresário que gerenciasse minha carreira internacional. As apresentações que faço no Brasil, por exemplo, partem sempre do interesse de um empresário de lá. Talvez, precisasse ter trabalhado com um olhar mais visionário nesse aspecto – avalia.








Como foi composta a música Champagne





Peppino toca junto da orquestra com seu piano


Mesmo assim, a carreira internacional acabou tomando seu rumo próprio, com músicas como Champagne, um dos maiores sucessos da carreira de Di Capri, regravada por ícones como Roberto Carlos e Andrea Bocelli:
– Essa música ganhou o gosto popular e sei que é a preferida em muitos casamentos, na Itália e no Brasil. Mas, o mais curioso, é que a letra fala de um casal que está se separando. Pergunto sempre para as pessoas: 'Mas vocês ouviram a letra?'” – diverte-se







A música foi composta por Mimmo Di Francia (cunhado de Di Capri), Depsa e Sergio Iodice, para o festival italiano Canzoníssima, em 1973. Na última noite do Festival, Di Capri tinha que levar uma música nova. A letra já estava praticamente pronta, mas Di Francia não gostava do título original, que se chamava Por uma taça de champagne. Dizia que tinha que ser mais curto, apenas Champagne. Um dia, quando estava pegando um táxi, veio o primeiro verso para Di Francia: “Champagne, per brindare un incontro...”. Começou a assobiar as notas. Depois, em casa, passou para o piano e enviou a Di Capri. No entanto, o cantor caprese esclarece que não existiu uma história ou um personagem real que inspirasse um de seus maiores sucessos:
– É uma situação que já ocorreu (e ocorre) com muitas pessoas, por isso, o público se identifica tanto. Mas a composição foi apenas acontecendo, uma palavra depois da outra, sem uma inspiração mais próxima” – revela.






O artista fala durante o ensaio no Teatro di San Carlo


Trata-se de uma música que despertou curiosidade até de políticos brasileiros famosos, como o ex-presidente brasileiro Luís Inacio Lula da Silva, que o cantor italiano conheceu na década de 1990:
– Pegamos o mesmo avião para um evento, em um cidade no interior de São Paulo, a uns 400 km da capital. Conversamos um pouco. Ele queria saber das músicas mais famosas, como Champagne e Roberta – revela.








Dicas de madrugada e turnê no Brasil





Na frente do Golfo de Nápoles, ele avalia um pouco de sua carreira


Na Itália, não foi diferente. Também por lá, há cerca de dez anos, o artista caprese foi procurado por um político famoso, em uma situação pra lá de inusitada. O ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi telefonou de madrugada para a casa de Di Capri, cantarolando a música Roberta:
– Achei que fosse um trote e disse que ia desligar – recorda-se o cantor às gargalhadas. Berlusconi ia gravar um CD de canções românticas napolitanas e havia telefonado para pedir dicas ao músico, que tem longa experiência na área.








O cantor caprese ganha bolo para celebrar seus 60 anos de trabalho


Contudo, a experiência de seis década não prejudicou a voz de Di Capri, que continua entonando notas no pentagrama com a mesma performance. Dentre as precauções para preservar seu bem mais precioso, evita bebidas alcoólicas. No Brasil, abre pequenas exceções:
– Um pouco de caipirinha pode, né? Mas nada exagerado, o suficiente só para ficar mais alegre. A cachaça brasileira é forte. Preciso tomar cuidado!”, brinca. Já na ginástica da academia, celebra os 2 kg que eliminou com poucos meses de malhação, os quais teme recuperar na próxima turnê pelo Brasil: “Com toda aquela carne que passa sem parar pelas mesas da churrascaria, vai ser difícil manter a forma”, prevê. Nas apresentações musicais, meia hora antes de cantar, toma sempre uma xícara de chá, mas sem uma técnica específica para a voz: “Procuro me cuidar um pouco, mas acho que é mesmo vontade de Deus” – celebra.








PEPPINO DI CAPRI






Quando:

Sábado (9 de junho), às 21h


Local:

Teatro di San Carlo: via San Carlo, 98/F, Nápoles – Itália


Preço:

Entre €35,86 (balcão) e €102,44 (poltroníssima)
Ingressos pela Internet